quarta-feira, junho 23, 2004

Viviane Senna
Área de Atuação: Ação social
Profissão: Psicóloga
Lugar onde trabalha: Instituto Ayrton Senna - São Paulo (SP)
Idade: 47 anos


PROJETO QUE DESENVOLVE
Viviane Senna da Silva Lalli, irmã mais velha de Ayrton Senna, é presidente do instituto que leva o nome do piloto, morto em 1994. O instituto foi criado em 21 de março de 1995, dia do aniversário do piloto, com a intenção de direcionar para projetos sociais o dinheiro arrecadado em contratos de utilização das marcas Senna e Senninha e a imagem de Ayrton Senna.

IMPACTO
O Instituto Ayrton Senna, IAS, dá apoio a 24 projetos sociais que envolvem a educação de 40 000 crianças em dez Estados brasileiros.
PANORAMA DA ÁREA
Mais de 51% das crianças e adolescentes brasileiros, segundo o IBGE, são de famílias com uma renda inferior a 1/2 salário mínimo. Segundo a Fundação Abrinq, uma das entidades brasileiras que mais atuam na questão da criança e adolescente no país, seus 1707 sócios (entre empresas e pessoas físicas) investem atualmente 220 000 reais por mês em seis grandes projetos sociais. Somando os seus três anos de atividade, o IAS tem investido, em média, 222 000 reais por mês na manutenção de programas de apoio a menores carentes.

ORIGINALIDADE DAS SOLUÇÕES
Uma das inovações que o IAS trouxe para a forma de atuação desse tipo de entidade é que ele dá apoio prático e financeiro a programas que já existem. Além disso, o IAS contratou técnicos para analisar os principais problemas da infância e da adolescência no país e idealizar projetos de intervenção ou de desenvolvimento social.

EFICIÊNCIA
Desde que foi criado, o Instituto Ayrton Senna acumulou 9,1 milhões de dólares. Investiu 8 milhões em projetos sociais e no próprio instituto. Dos 8 milhões, 18% são gastos com administração e manutenção da estrutura do Instituto. O restante permanece num fundo de caixa.

MISSÃO
"Eu sei que a imagem do meu irmão é muito forte e fico feliz que ela possa ser usada para trazer retorno social. Eu não dou donativos, faço investimentos sociais. E quero resultados claros, lucro. Só que o lucro que me interessa não é monetário, mas social. Meu lucro é ver que a qualidade de vida vai melhorar para essas crianças. Eu não estou aqui para fazer caridade. O foco não pode ser a instituição mas as questões éticas que envolvem a vida das crianças e o desenvolvimento delas como cidadãos. Está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente que os adultos devem cuidar das crianças. Nós não estamos cuidando. É com isso que temos que nos preocupar. Por isso nossos programas têm metas claras para o futuro. Nós queremos mudar este país." Viviane Senna, viúva, sem filhos.

PERFIL E HISTÓRICO DO SEU TRABALHO
Viviane Senna trabalhou como psicóloga durante 15 anos, antes de assumir o IAS. Evangélica, nunca havia assumido nenhuma função administrativa nas empresas da família. Viúva, Viviane não tem filhos. O projeto do Instituto Ayrton Senna nasceu da vontade do piloto, expressada dois meses antes de sua morte, de fazer algo pelas crianças pobres do país. Depois da morte de Senna, resolvida a pôr em prática as idéias do irmão, Viviane criou em Londres a Ayrton Senna Foundation, em julho de 1994. A fundação foi criada na Inglaterra porque no Brasil demora-se um ano para que uma possa ser aberta e, como os contratos já estavam fechados, Viviane não quis que eles fossem depositados em contas das empresas da família. Segundo ela, a Fundação é apenas uma conta bancária que repassa as verbas para o Instituto Ayrton Senna, o IAS, criado em março de 1995. As marcas Senna e Senninha e a imagem do irmão de Viviane eram de propriedade da empresa Ayrton Senna License. Essa empres foi doada pela família para o Instituto Ayrton Senna. Viviane Senna preside o instituto com o apoio de um conselho administrativo formado por empresários, que também são diretores de fundações. Como todo o primeiro escalão de instituições do gênero, Viviane e os membros do conselho trabalham no instituto de forma voluntária. Ela não recebe salário. "Vivo do dinheiro das empresas da família", diz.

OS CRITÉRIOS DO INSTITUTO PARA O REPASSE DAS VERBAS
O repasse das verbas para projetos sociais segue vários critérios. Especialistas contratados pelo instituto formam comitês técnicos que definem os maiores problemas em várias áreas, estabelecem as estratégias de ação e verificam quem está trabalhando dentro destas linhas. O IAS, que além de dar ajuda financeira também participa do gerenciamento e da idealização de projetos. O instituto não funciona como balcão de projetos. Seus técnicos é que vão atrás dos programas que funcionem dentro da filosofia emancipatória do instituto. O IAS também faz uma análise anual dos projetos que viabiliza e cobra resultados concretos. "É muito difícil decidir o que fazer em um país que precisa de tudo. Nós atendemos a 40 000 crianças, mas existem 40 milhões que precisam de apoio. Não é o Instituto Ayrton Senna que vai resolver isso", diz Viviane. "Precisamos criar uma consciência para que as pessoas exijam e façam valer as políticas públicas. Precisamos educar o soberano, o povo, de maneira ampla. O país tem recursos, só precisa arrumar soluções práticas." Existem duas linhas de ação com as quais o Instituto trabalha e que pesam na seleção dos programas que apoia. Na primeira, a atenção é voltada a projetos que visem sanear problemas pontuais como a desnutrição infantil ou questões de saúde. A segunda é a idealização e o financiamento de idéias direcionadas para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes pobres por meio do incentivo à educação e a atividades culturais e esportivas.

OS PROJETOS DO IAS
O Instituto Ayrton Senna auxilia no gerenciamento e fornece ajuda financeira a 24 projetos, em dez estados brasileiros e no Distrito Federal. Seis deles ainda em fase de implantação. No combate a problemas básicos, em São Paulo e no Paraná, o IAS idealizou e colocou em prática os projetos Nutrir e Nutricentro que, em parceria com o Instituto Abrasso, Credicard, Instituto Mauá, Banestado e Provopar, utilizam alimentos excedentes do Ceagesp das capitais paulista e paranaense para produzir uma sopa que é distribuída a entidades assistenciais. Os dois projetos visam não só combater a desnutrição infantil como também mostrar que existe um grande desperdício de alimentos no país. As previsões são de que até o final deste ano 13 000 crianças sejam beneficiadas com o "Sopão do Senna" em 106 entidades paulistas e que 20 000 refeições sejam servidas por dia no Paraná. No Ceará, o IAS ajuda financeiramente o IPREDE - Instituto de Prevenção à Desnutrição e à Excepcionalidade -, que trabalha no combate à subnutrição aguda e crônica e na recuperação física, motora e mental de crianças de 0 a 6 anos e na educação das famílias. O IAS está estudando meios para tornar o IPREDE auto- sustentável. O IPREDE, localizado em Fortaleza, já atendeu diretamente 70 000 crianças desde que foi inaugurado há dez anos e dá assistência direta e indireta, por meio de apoio às famílias, a 23 000 crianças anualmente. Ainda em São Paulo, o Instituto Ayrton Senna ajuda financeiramente a Casa Vida, que abriga 30 crianças portadoras do vírus da AIDS que foram abandonadas pelas famílias ou ficaram órfãs, e o Projeto de Apoio à Criança com Câncer, que visa humanizar o atendimento hospitalar e ambulatorial das 1200 crianças que passam pelos leitos da Escola Paulista de Medicina (EPM) por mês. Com o apoio aos dois projetos, Viviane pretende que as crianças tenham atendimento médico e hospitalar de qualidade, educação, atividades de lazer e auxílio psicológico. O Instituto também doou ao Setor de Oncologia Pediátrica da EPM um sistema de alta tecnologia que agiliza o processo de exames sangüíneos e ameniza a dor na hora de coleta dos testes Na área de desenvolvimento para a cidadania, o Instituto Ayrton Senna ajudou a desenvolver os programas de Educação e Promoção Social através do Esporte em parceria com universidades. Nesses programas, as dependências e os serviços das universidades públicas são utilizados para que crianças e adolescentes em situação de risco participem de treinamento esportivo diário e recebam assistência pedagógica, psicológica e médico-odontológica, além de alimentação e vale-transporte. As seis universidades que participam são: Universidade de São Paulo, 500 crianças; Universidade de Pernambuco, 1 000 crianças; Universidade Federal do Pará, 400 crianças; Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 400 crianças; Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 300 crianças; e Universidade Federal de Minas Gerais, 200 crianças. O IAS apóia ainda a EDISCA, de Fortaleza (que foi Prêmio CLAUDIA em 1996), uma escola que recupera a auto-estima de meninas carentes da cidade por meio da dança clássica. Além da dança, as 240 meninas da EDISCA contam com atendimento em educação, alimentação e saúde Três dos programas selecionados pelo Instituto são profissionalizantes: Informática no Externato São João, de Campinas, SP, ensina computação a 80 crianças de rua da cidade, que utilizam um laboratório de informática doado pelo IAS; Informática na Fábrica da Esperança, no Rio de Janeiro, RJ, que prepara anualmente 600 adolescentes para o mercado de trabalho, com cursos, estágios e complementação de ensino; e a oficina de papel reciclado montada pelo Projeto Axé, em Salvador, BA, da qual participam 130 crianças. Em Brasília, o IAS apóia o Projeto do Centro de Atenção Juvenil Especializado, que tenta integrar na sociedade adolescentes infratores internos, dando-lhes mais recursos por meio de oficinas semi-profissionalizantes de tapeçaria, marcenaria e mecânica. O IAS trabalha ainda em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo, que vem pesquisando crianças e adolescentes que vivem nas ruas. Essas pesquisas servirão para a construção de projetos de intervenção social que atendam às demandas dessas crianças e de suas famílias. Além disso, em parceria com outras instituições, o IAS vem levantando informações sobre as iniciativas não-formais de educação e trabalho para adolescentes, com o objetivo de formar um cadastro de experiências significativas que servirá de base para a implementação de outras ações nessa área.

QUALIDADE DO ENSINO, UM PROBLEMA DAS CRIANÇAS BRASILEIRAS
Depois de estudar detalhadamente os problemas das crianças brasileiras, a equipe do Instituto Ayrton Senna decidiu que uma das áreas mais graves era a da educação formal. O Instituto formulou e está implantando um projeto que, com o apoio da Petrobrás e de prefeituras municipais que demonstram interesse pela questão do ensino básico, transforme a escola pública em um centro de ensino mais atraente, por meio da reforma do ambiente físico, da capacitação de professores, do fornecimento de livros para bibliotecas, de laboratórios de ciências e de informática e do estímulo ao envolvimento dos alunos e da comunidade nas questões da escola. "Descobrimos que o problema não é a falta de escola, mas a falta de qualidade, que se revela em repetência e evasão escolar", diz Viviane. "É isso que queremos combater agora." As quinze prefeituras selecionadas se comprometeram a zerar a evasão escolar e a diminuir a repetência. Os resultados do projeto serão avaliados pela Fundação Carlos Chagas, de São Paulo.

PAPEL NO PROJETO
A psicóloga Viviane Senna tem noção de que seu trabalho só foi possível por causa da importância que seu irmão teve para os brasileiros. Ela não se constrange em dizer que preferiu aproveitar essa imagem para questões importantes a resguardá-la do assédio do público. "Eu sei que a imagem de meu irmão é muito forte e fico feliz que ela possa ser usada para trazer retorno social", afirma Viviane. "Eu acho que temos que devolver ao país o carinho que os brasileiros têm com o Ayrton." "A Viviane teve uma decisão muito difícil de usar a imagem do irmão para investimentos sociais", explica Evelyn Iochpe, presidente do GIFE, Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, e membro do conselho do Instituto Ayrton Senna. "Ela se dedica pessoalmente a todos os projetos e participa de longas reuniões que vão decidir as estratégias de ação do instituto. Além disso, o instituto está trazendo visibilidade ao setor social, coisa que que nunca foi considerada neste país." Viviane diz não aceitar, nem acreditar em caridade e não quer que ninguém faça caridade ao comprar um produto que tenha o nome Senna. "Nós garantimos todos os produtos", diz Viviane. "Quem comprar vai nos ajudar, mas na verdade estará comprando um produto de qualidade. Eu não quero que ninguém compre nada só por causa do instituto." Segundo Agop Kayayan, representante do Unicef no Brasil, o papel de Viviane frente ao instituto é importantíssimo. "A Viviane Senna tem uma visão extraordinária. Ela teve um aprendizado fantástico em um tempo muito curto. Ela não sabia nada sobre a área e hoje já conhece muito bem os problemas e suas soluções", afirma ele. "Ela está ajudando de maneira muito séria, não só a área social diretamente, mas também a colocar nos trilhos certos as contribuições que as instituições privadas poder dar a este país. O instituto é um exemplo e uma das demonstrações de que podemos sair do assistencialismo mais tradicional, que não resolve nada, e passar a tratar de assuntos mais relevantes, da defesa da emancipação do povo brasileiro."

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