segunda-feira, junho 21, 2004

Faça o que eu faço – O impacto interno das atitudes da empresa

Palestrantes
_Flávia Moraes – Philips

_Paulo Castro – Instituto C&A


_Paulo Itacarambi – Instituto Ethos

_Simone de Carvalho Soares - Suzano

Moderador _Alexandre Machado – Machado & Roth

Flávia Moraes, Gerente Geral de Responsabilidade Social da Philips, abriu a discussão sobre a sintonia entre a atuação interna e externa das empresas destacando que este ponto é a síntese da estratégia da Philips. Segundo ela, não há imagem externa sem percepção interna. Para isso, existem questões preementes que precisam estar claras para todos os envolvidos no processo. A primeira diz respeito à identidade da empresa. Para introduzir patrocínios e investimentos sociais privados na cultura empresarial é preciso ter profundo conhecimento de suas vocações e intenções, saber quais são seus diferenciais, como costuma agir em relação a todos os seus públicos, quem são exatamente estes públicos, quais são seus valores e compromissos, e de que forma estes últimos são, de fato, cumpridos. A partir daí, é necessário pensar como, então, se mobiliza o público interno nas ações. Para isso, é fundamental que haja uma comunicação esclarecedora sobre o porquê do patrocínio. A sinergia deve vir do entendimento que o colaborador tem sobre o caminho escolhido pela empresa e da liderança que determinados grupos têm, e esta liderança deve ser pautada pela transparência no relacionamento. Por fim, Flávia argumentou que para o pleno desenvolvimento desta cultura interna é recomendavel que haja participação direta dos setores da própria organização nos processos. Quando as atitudes da empresa são transferidas para um instituto ou fundação coligada, corre-se o risco das ações não terem assimilação interna.
O Diretor Presidente do Instituto C&A, Paulo Castro, por sua vez, posiciona o instituto como sendo uma forma de articulação e mobilização com instituições do terceiro setor, que potencializa a solução das questões sociais. Para ele, o objetivo do investimento social está na transformação social, e não na relação negocial. A percepção é que a marca deve estar a serviço da causa, e não o contrário. Se o foco é o relacionamento com a comunidade, então deve-se partir da demanda desta própria e atuar segundo aspectos inerentes ao investimento, passando pelo planejamento, monitoramento, integração, articulação e retorno de médio e longo prazo. Com um investimento em 2004 de R$ 9 milhões, o Instituto C&A define o programa de voluntariado como uma das linhas de ação estratégicas para a empresa, cujo objetivo é oferecer aos funcionários uma formação que lhes permita compreender seu papel de cidadão. Assim, 17% do quadro de pessoal da empresa é envolvido, totalizando 2.200 voluntários. O impacto interno é que amplia a capacidade de análise e percepção crítica, é uma escola de liderança, desenvolve a capacidade de comunicação e articulação, é um elemento de motivação pessoal e fortalece a dimensão do trabalho em equipe. O impacto externo é que agrega valor à imagem corporativa e atrai novos talentos.
Para a Gerente de Identidade Corporativa da Suzano, Simone de Carvalho Soares, o grande diferencial da Suzano é que a causa social faz parte do DNA da empresa, que segue o lema de que o bem sucedido e gerador de riqueza deve saber compartilhá-la. A Suzano passou pelos diferentes estágios em relação à área social, atuando segundo a ótica do mecenato, do assistencialismo e, finalmente, da responsabilidade social. Atualmente, uma de suas maiores preocupações é refletir sobre como a empresa atua nas relações com os colaboradores e com as comunidades próximas. Esta tradição de empresa cidadã, no entanto, não seria possível se a Suzano não contasse com colaboradores comprometidos com a causa social. Considerando as questões ambientais como inerentes ao seu negócio, Simone explicou que a empresa interage no sentido do diálogo e da análise de posições e processos sobre seu impacto, principalmente a médio-longo prazo. A mensuração de resultados é feita, principalmente, a partir de pesquisas que indiquem o clima organizacional e que demonstrem os resultados da evolução social nas causas envolvidas.
Paulo Itacarambi, Diretor Executivo do Instituto Ethos – que reúne 800 empresas comprometidas com a sociedade -, tratou da disposição para a transformação social. Para ele, não basta investir e ter uma boa relação com a comunidade, é preciso fazer mais do que isso. O conceito de responsabilidade social para o Instituto é que a empresa deve gerenciar seu negócio provocando impactos positivos e eliminando o que há de negativo. Com base nisso, não podemos mais conviver com uma empresa que ajuda no desenvolvimento ambiental com ações de educação, porém não olha para o seu próprio processo produtivo, que são os principais causadores dos problemas no ecossistema. Assim, Paulo concentrou o eixo da discussão na coerência pois, para ele, é a partir daí que a empresa irá, de fato, contribuir com a sociedade, e que seus funcionários estarão, automaticamente, participando. No entanto, não é possível mudar tudo de uma vez só. Deve-se explicitar publicamente seu compromisso, para que todos os públicos envolvidos possam cobrar e acompanhar as mudanças.

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