terça-feira, junho 08, 2004

O QUE É MARKETING SOCIAL?


O Marketing Social ou Marketing para Causas Sociais, como costuma também ser denominado em outros países, diz respeito ao esforço mercadológico no sentido de associar uma marca ou instituição a uma causa social, que pode ser o desenvolvimento de campanhas (para prevenção da saúde e o estímulo à leitura, por exemplo) doações para entidades assistenciais, parcerias com entidades filantrópicas, desenvolvimento de trabalho junto a comunidades carentes etc.
Conceitualmente, há algumas complicações no uso desta expressão, porque pode-se entender, e alguns estudiosos assim o fazem, que o Marketing Social abrangeria, em sua amplitude os chamados Marketing Cultural, Marketing Esportivo, o Marketing Ecológico e o Marketing Comunitário (para só citar 4 expressões cunhadas recentemente e muito em voga). Na verdade, tem sentido, porque, do ponto de vista, prático estimular a prática do esporte, a cultura, a consciência ambiental e o desenvolvimento comunitário representa desenolver ações sociais importantes. Fica, portanto, de imediato, esta questão posta na conceituação de Marketing Social porque o próprio termo social é demasiado amplo.
O Marketing Social tem ganhado corpo nos últimos anos, na medida em que empresas e instituições se conscientizam da necessidade de comprometer-se definitivamente com a comunidade, em contrapartida ao apoio que esta lhes empresta, comprando seus produtos e serviços, disponibilizando-lhe mão-de-obra e, muitas vezes, oferecendo-lhe benefícios para a sua instalação e funcionamento (como a isenção de impostos, em muitos casos).
A difusão do princípio básico da Responsabilidade Social ( este conceito faz parte deste menu geral sobre conceitos) tem permitido o avanço do Marketing Social. Cuidado, no entanto, deve ser tomado no sentido de evitar que empresas e entidades demagogicamente o adotem para encobrir suas mazelas. Nesse caso, talvez essas ações ainda podem ser consideradas marketing (cada vez menos pela relação estreita que se passa a exigir entre atividade de marketing e a ética empresarial), mas dificilmente poderiam ser consideradas sociais, porque têm uma inspiração espúria.
É necessário olhar com desconfiança para empresas que se propõem a mascarar sua atuação socialmente irresponsável na comunidade (poluindo o ambiente, explorando o trabalho infantil, desrespeitando o consumidor etc) através de doações , apoio a grupos menos privilegiados ou patrocínio de campanhas educativas ou culturais.

O Marketing Social realmente legítimo não é aquele que se pratica unicamente com o dinheiro, mas com a consciência e o coração.
Uma leitura interessante a este respeito é o trabalho de Marjorie Thompson e Hamish Pringle, intitulado Marketing Social . Marketing para Causas Sociais e a construção de marcas, editado pela Makron Books, São Paulo, 2.000.
Aproveite para consultar alguns artigos e verificar alguns textos (livros) sobre o tema.


Marketing Social: Usos e Abusos
Dalberto Adulis

Nos últimos anos a expressão marketing social passou a ser empregada para designar noções bastante distintas, o que tem propiciado uma certa confusão quando se fala sobre marketing no terceiro setor. Há uma quantidade crescente de noções que, devido à incompreensão, à falta de clareza, ou ainda a determinados interesses, têm sido utilizadas de forma indiscriminada Entre os termos que têm sido utilizados para designar a postura "voltada para o social" ou ações sociais estão: marketing social, marketing relacionado a causas sociais, marketing comunitário, marketing de campanhas sociais, responsabilidade social, cidadania empresarial ou, até mesmo, marketing da filantropia.
O crescimento do terceiro setor e a "descoberta do social" por algumas empresas, que passaram a valorizar explicitamente uma atuação socialmente responsável explicam, em parte, esta abundância de termos e expressões. Em meio a esta mixórdia de expressões, alguns acadêmicos e consultores têm buscado resgatar as origens conceituais do marketing social para distingui-lo de outras práticas e possibilitar a diferenciação entre os vários tipos de ação social promovidas por organizações do terceiro setor.
Conforme observado por Mendonça e Schommer (2000), no Brasil "o termo "marketing social" está sendo utilizado para designar atuação empresarial no campo social com objetivo de obter diferenciais competitivos, sem que essas ações tenham o objetivo de influenciar comportamentos coletivos. Alguns artigos colocam que é crescente o número de empresas que fazem promoções ou associam sua imagem a causas sociais, como forma de estimular vendas ou agregar valor a sua imagem institucional. Essa concepção, muitas vezes, refere-se apenas aos benefícios diretos à empresa, sem relacionar essas ações a mudanças de comportamento. Araújo (2001) também destaca que "as ações sociais promovidas pelas empresas, classificadas como de responsabilidade social ou qualquer outro termo, na maioria das vezes não utilizam estratégias de marketing social, mas apenas, ações de promoção social, utilizando-se, para isso, de marketing comercial".
A Origem do Marketing Social
O principal teórico do Marketing, que aborda a questão do marketing social desde a década de 70, define marketing social como "o desenho, implementação e controles de programas que buscam aumentar a aceitabilidade de uma idéia, causa ou pratica social junto a públicos-alvo" (Kotler e Armstrong, 1993, 421). Segundo esta concepção, que está na origem da expressão, o marketing social consiste de um conjunto de atividades, técnicas e estratégias que são utilizadas para estimular e promover mudanças sociais, como alterações de crenças, atitudes e comportamentos. Assim, no marketing social são empregados conceitos e ferramentas originárias do marketing convencional para influenciar comportamentos com o objetivo de promover mudanças sociais. Exemplos clássicos de aplicação do marketing social podem ser vistos em programas ou campanhas de planejamento familiar, prevenção de doenças, direitos humanos, economia de energia e preservação ambiental.
O marketing social combina elementos dos enfoques tradicionais utilizados na promoção de mudanças sociais em um modelo integrado de planejamento e ação que empregue os avanços nas tecnologias de comunicação e marketing. Ass técnicas e metodologias do marketing social podem ser empregadas para analisar atitudes, valores e comportamentos, promover discussões e disseminar informações, contribuindo para um clima que facilite a adoção de mudanças comportamentais na sociedade.
Para o Socialtec (Fórum de Marketing Social), o Marketing Social é "a gestão estratégica do processo de inovações sociais a partir da adoção de comportamentos, atitudes e práticas individuais e coletivas, orientadas por preceitos éticos, fundamentados nos direitos humanos e na eqüidade social. O termo é empregado para descrever o uso sistemático de princípios e técnicas orientadas para promover aceitação de uma causa ou idéia. Tem como objetivo principal transformar a maneira pela qual um determinado público-adotante percebe uma questão social e promover mudanças comportamentais visando melhorar a qualidade de vida de um segmento populacional."
Considerando esta definição, a noção de marketing social não se aplica a empresas que utilizam instrumentos de marketing apenas para divulgar suas ações sociais, tornar pública sua postura socialmente responsável ou mesmo melhorar sua imagem junto à sociedade, pois estas ações não têm o objetivo de promover mudanças sociais. As tentativas recentes que têm identificado como "marketing social" ações de responsabilidade social das empresas apenas geram maior confusão e dificultam a compreensão de conceitos distintos.
O marketing social também não deve ser confundido com o chamado "marketing relacionado a uma causa", em que uma organização agrega uma causa, como o combate ao trabalho infantil ou a preservação ambiental, aos processos de produção, promoção e vendas de seus produtos e serviços. Neste caso a empresa vincula seu produto ou sua imagem institucional a uma determinada causa, seja ela social ou não, com o objetivo de atrair ou conquistar a fidelidade de seus consumidores por afinidades. Um exemplo clássico deste tipo de marketing é o realizado pelas empresas de cartões de crédito, que possibilitam ao cliente escolher cartões vinculados tanto a um time de futebol como a uma campanha em defesa dos direitos da criança.
No artigo Enfim, Marketing Social Resgatado, Fontes (2001) destaca que a principal diferença entre o marketing social e o marketing relacionado a uma causa está nos resultados que serão alcançados com a utilização de um dos dois conceitos. "No caso do marketing social, como explorado em diversas publicações em todo o mundo, o principal impacto será a transformação da sociedade, na qual a empresa ou instituição está inserida. Já no caso do marketing para causas sociais, retornos financeiros ou de imagem, diretamente voltados para a empresa ou instituição, serão mais evidentes."
Novos Desafios do Marketing Social
A recente disputa por conceitos e significados para designar ações sociais insere-se no contexto de uma crescente competição entre organizações que atuam no terceiro setor, motivada por fatores como os apontados por Weinberg e Ritchie em 1999, em uma conferência sobre marketing social realizada no Canadá:
A competição por recursos e fundos
Mudanças nas relações intersetoriais: empresas que passam a atuar na área social e organizações do terceiro setor que adotam posturas comerciais.
Existência de concepções distintas do que é o "bem comum".
A crescente orientação para negócios.
A maior diversificação de atividades por parte das organizações, que às vezes leva à sobreposição de atividades.
A crescente profissionalização da gestão e a necessidade de se fixar em metas e objetivos.
Um outro fator que contribui para uma maior competitividade entre organizações que empregam marketing social é a crescente disputa pelo tempo e a atenção da população, que recebe uma "enxurrada" de informações e mensagens, todas procurando influenciar seu comportamento.
Weinberg e Ritchie empregaram uma charge publicada pelo New York Times para ilustrar este excesso de mensagens. Em uma agência de recrutamento de soldados para o exército americano, os recrutas se deparam diante de um pôster do governo americano em que o Tio Sam fazia algumas recomendações aos recrutas:
Pare de fumar
Use cinto de segurança
Coma vegetal
Fique fora do sol
Perca peso
Seja voluntário
Coloque as crianças no banco de trás
Use preservativos
Coma menos carne vermelha

Esta charge nos dá margem para pensar que em uma sociedade caracterizada pelo excesso de informação, as organizações do terceiro setor precisam ser ainda mais competentes para atrair a atenção dos cidadãos e sensibilizá-los para as causas sociais que defendem. Além de sensibilizá-los, as organizações precisam facilitar processos que levem a mudanças de atitudes e comportamentos, pois só assim a mudança social será efetiva. É lógico que transformações sociais efetivas não serão possíveis apenas com ações e estratégias de marketing social, pois dependem de participação democrática, do exercício da cidadania e da existência de políticas públicas adequadas. Porém, isto não impede que as organizações do terceiro setor empreguem os recursos do marketing social para alcançar seus objetivos de transformação social.

Um comentário:

Lorena disse...

excelente abordagem, nós também trabalhamos assim em nossa agencia de marketing sp, parabéns pelo conteudo