quarta-feira, julho 28, 2004

MEIO AMBIENTE

O apagão florestal - Plantações de pinus e eucalipto são insuficientes e o Brasil já importa madeira reflorestada do Mercosul.
Uma nova crise toma forma no país, causada pela mesma falta de planejamento que levou à falta de energia em 2001. É o apagão florestal, expressão que descreve a escassez de madeira das matas de reflorestamento para atender à demanda por pinus e eucalipto. Segundo a consultoria STCP Engenharia de Projetos, de Curitiba, houve um déficit de mais de 11 milhões de metros cúbicos apenas em toras de pinus no ano passado. Até 2020, a conta poderá superar os 27 milhões de metros cúbicos. O problema já afeta a indústria moveleira do sul do país e indiretamente toda a cadeia produtiva da madeira, inclusive a siderurgia (o eucalipto é combustível na produção de ferro e aço). Essa situação apertada deverá durar alguns anos, porque o pinus exige no mínimo duas décadas para ser transformado em móveis e o eucalipto precisa de sete anos para poder virar celulose ou carvão.
Diante da situação, algumas empresas já importam madeira do Mercosul, principalmente da Argentina. É o caso das Indústrias Artefama, de São Bento do Sul, Santa Catarina, que exportou US$ 35 milhões em móveis para os Estados Unidos e a Europa em 2003. 'Já buscamos madeira a 300 quilômetros, no oeste, e também na Argentina', diz Álvaro Vaz, diretor-presidente da empresa e vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel). A importação só não é maior porque algumas grandes fabricantes de papel ainda possuem madeira para suprir parte da demanda. A Klabin, que tem 190.000 hectares no Paraná e em Santa Catarina, vendeu 4,5 milhões de metros cúbicos de toras de pinus para a indústria moveleira entre 2003 e 2004. É um bom faturamento extra. Em cinco anos, o preço da tora desse material mais que dobrou, chegando a R$ 95 o metro cúbico para laminação. Bom também para o médico Aulino Feitosa Alves, de 75 anos. Ele acaba de vender 700 hectares de pinus plantados desde 1980 em Telêmaco Borba, a 250 quilômetros de Curitiba, seguindo o conselho de engenheiros florestais da Klabin. 'Diziam que ia faltar madeira e quem plantasse ganharia muito dinheiro', recorda Feitosa.
Vários fatores levaram à situação atual. Em 1989, depois de muitas denúncias de falcatruas, o governo federal suspendeu os incentivos baseados em renúncia fiscal criados no início da década de 70, sob os quais o país plantou 6,9 milhões de hectares de florestas em Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e sul da Bahia. Em 20 anos, foram gastos cerca de R$ 6 bilhões em valores atuais. No setor, admite-se que muita área verde não saiu do papel ou perdeu-se por descuido. Restaram 5 milhões de hectares produtivos. Com o fim do incentivo e o período de turbulência, com juros proibitivos para longo prazo, além de um período de excesso de oferta, pouco se plantou de 1989 a 2000.
A indústria nacional de móveis, que tem 16 mil pequenas e microempresas e emprega 195 mil pessoas, exportou US$ 661,5 milhões em 2003, faturando R$ 8,8 bilhões num ano ruim. A ironia é que o Brasil tinha tudo para não viver essa crise. Uma árvore que precisa de 20 anos de crescimento no Brasil exige 50 nos Estados Unidos e 70 na Finlândia para alcançar o mesmo tamanho.
Agora o governo decidiu liberar crédito para plantio de florestas em pequenas e médias propriedades, vai investir em assistência técnica e reduzir o excesso de burocracia que envolve os licenciamentos ambientais. O ritmo deverá atingir os 200.000 hectares ao ano até 2007. Os programas Pronaf Florestal e PropFlora já oferecem R$ 20 milhões de crédito para este ano, recursos irrisórios diante do tamanho do problema. E o crédito muitas vezes esbarra em gerentes de banco, que evitam operações de prazo tão longo.

Oferta de madeira de pinus e eucalipto no Brasil não acompanha o crescimento da demanda em milhões de metros cúbicos.
Na verdade, hoje dinheiro não falta para um setor tão lucrativo. Cerca de 95% do plantio usa recursos das empresas. São 470.000 hectares ao ano, mas eles apenas recompõem o consumo. Para afastar a escassez, o país precisa acrescentar 600.000 hectares de florestas plantadas ao ano durante dez anos. 'Dá para fazer isso sem derrubar uma árvore da Mata Atlântica, pois o país tem entre 50 milhões e 80 milhões de hectares de áreas degradadas, que podem ser ocupadas por eucaliptos e pinus', diz o diretor do Programa Nacional de Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Tasso Azevedo. 'Vamos estimular o plantio e garantir a colheita de floresta impedindo o avanço sobre a mata nativa', promete.

Fonte – Revista Época 26/07/2004



Projeto ambiental
A marca Hellmann's, da Unilever, investirá R$ 600 mil em três projetos ambientais. As ações envolvem oficinas de reciclagem em escolas de São Paulo, coleta seletiva em seis Estados e a troca de embalagens usadas por cupons de descontos.
Congresso
A 2ª edição do Congresso Ambiental, que acontecerá de 20 a 22 de setembro, em São Paulo, vai reunir representantes do governo, empresários e ambientalistas para discutir formas de implementar empreendimentos que não causem impacto no ambiente. 
Ambiente
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) discute hoje, em Brasília, as quantias que os órgãos ambientalistas cobram de empresas que geram significativo impacto ambiental. A lei estabelece um valor mínimo de 0,5% sobre os custo de implantação dos projetos, mas as entidades cobram bem mais.
Reciclagem
Os formulários de boletos de cobrança do Banco Real, cerca de 4 milhões, passaram a ser impressos em papel reciclado. A iniciativa é parte da política de ecoeficiência do banco para contribuir com o desenvolvimento sustentável.

Fonte: Folha 27/07/2004

Nenhum comentário: