Autor: Antonio Ermírio de Moraes
Fonte - Folha/ Opinião
No artigo publicado nesta coluna no dia 6/3, registrei a falta de água como um grande obstáculo para o futuro da China. Em livro recente, Lester Brown apresenta detalhes alarmantes sobre esse problema. O lençol freático do norte da China está descendo de um a três metros por ano! (Lester Brown, "Outgrowing the Earth", New York: W.W. Norton & Company, 2004).Essa é uma perda brutal quando se considera que, para produzir uma tonelada de grãos, são necessárias mil toneladas de água! Na agricultura não se faz nada sem água.No entanto o norte da China está secando. Para quem vive longe daquele gigante é difícil imaginar a extensão dessa catástrofe. Rios e lagos estão desaparecendo. Velhos desertos avançam a cada dia e novos são formados. Há dez anos, a China era auto-suficiente em soja. Em 2004, importou 22 milhões de toneladas.Esse problema não é só da China. A Índia e os Estados Unidos estão sendo igualmente afetados. O déficit decorre do advento de bombas de grande potência que extraem quantidades gigantescas de água para sustentar grandes populações. Esses três países têm mais da metade da população do mundo, e o que se retira dos aqüíferos não tem sido compensado pela reposição das chuvas. Esse é um fenômeno recente.Depois das grandes conquistas da pesquisa agropecuária, e com uma produção que triplicou entre 1950 e 1996, as safras de grãos do mundo mantiveram-se estáveis nos últimos sete anos. Nas décadas de 50 a 80, a produtividade aumentou 2% ao ano. Na década de 90, baixou 1%. E, a partir de 1984, o crescimento das safras ficou aquém do crescimento da população.Um quadro desse tipo constitui um enorme desafio aos poucos países que contam com água e outros recursos para poder expandir sua produção. O Brasil é o único país que possui água em abundância, grandes extensões de terra e uma boa pesquisa agropecuária. No ano passado, produzimos 66 milhões de toneladas de soja e exportamos 44 milhões de toneladas (in natura e industrializada), ultrapassando as vendas dos Estados Unidos, que ficaram em 33 milhões de toneladas.Os demógrafos estimam que até 2050 o mundo terá perto de 3 bilhões de pessoas a mais ao mesmo tempo em que as safras dos grandes países estarão encolhendo. Ou seja, as oportunidades do Brasil do futuro foram definidas hoje. Em boa hora, o Congresso Nacional regularizou o plantio da soja transgênica, que reduz os custos e aumenta a produtividade. E temos tantos recursos que podemos nos dar ao luxo de produzir também a soja tradicional para exportar aos países que não gostam de transgênicos.O Brasil é um país abençoado. Mas há muitos problemas a resolver para podermos obter o máximo de benefícios em termos de renda e de emprego. A precariedade das estradas e da armazenagem, o alto custo dos portos e a pesada carga tributária são itens prioritários na agenda do desenvolvimento para bem aproveitarmos as oportunidades que se abrem. Isso precisa ser acertado hoje para garantirmos a inclusão do Brasil como país do Primeiro Mundo. Se trabalharmos com muita intensidade e seriedade, tenho certeza de que chegaremos lá.
domingo, março 13, 2005
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