Plantas consertam defeitos genéticos, diz estudo
Descoberta contraria lei de Mendel - genoma não seria feito de DNA
Nicholas Wade - Em Nova York
Em descoberta impressionante, geneticistas de Universidade Purdue concluíram que as plantas possuem uma versão correta dos genes defeituosos herdados dos pais, como se alguma cópia de segurança com a versão correta tivesse sido feita na geração dos avós ou mesmo antes.
Segundo Robert Pruitt/Purdue University via NYT
A descoberta implica que alguns organismos podem conter uma cópia de segurança codificada em seu genoma que ultrapassa os mecanismos normais de hereditariedade. Se confirmada, representaria uma exceção sem precedentes das leis de hereditariedade descobertas por Gregor Mendel, no século 19. Igualmente surpreendente, o genoma alternativo não seria composto por DNA, material hereditário padrão. A descoberta também gera questões biológicas interessantes. Ela pode, por exemplo, atrapalhar a evolução, que depende das mutações."Parece uma descoberta maravilhosa", disse Elliott Meyerowitz, geneticista de plantas do Instituto de Tecnologia da Califórnia. David Haig, especialista em evolução de Harvard, descreveu a descoberta como "um resultado realmente estranho e inesperado", que poderá ser importante se for confirmado e ocorrer amplamente na natureza.O resultado, divulgado nesta terça-feira (22/03) na revista "Nature" por Robert E. Pruitt, Susan J. Lolle e colaboradores da Purdue, foi encontrado em uma única espécie, a planta Arabidopsis, que é um modelo de laboratório para geneticistas. Há indicações, entretanto, de que o mesmo mecanismo poderia ocorrer em humanos, de acordo com um comentário de Detlef Weigel do Instituto Max-Planck de Biologia do Desenvolvimento em Tuebingen, Alemanha.
Weigel descreve o trabalho da Purdue como "uma descoberta espetacular". A conclusão surgiu de um projeto de pesquisa iniciado há três anos, no qual Pruitt e Lolle estavam tentando compreender os genes que controlam a cutícula da planta. Como parte do projeto, estavam estudando plantas com um gene modificado, que faz com que suas pétalas e outros órgãos florais se aglomerem. Como as duas cópias do gene da planta estavam na forma modificada, não havia chance alguma da segunda geração ser normal.Mas até 10% da segunda geração se revertia para o normal. Vários eventos raros podem fazer isso acontecer, mas nenhum envolve a alteração da seqüência das unidades de DNA de um gene. Entretanto, quando os pesquisadores analisaram o gene que sofreu a mutação, conhecido como "cabeça quente", viram que as unidades anteriormente modificadas tinham voltado a sua forma normal."Foi um momento de choque completo", disse Pruitt.
Um gene que sofreu mutação pode ser corrigido por vários mecanismos conhecidos, mas todos requerem uma cópia do gene correto para servir de modelo. A equipe de Purdue procurou em todo o DNA da Arabidopsis uma segunda cópia escondida do gene da cabeça quente, mas não a encontrou.Pruitt e seus colegas argumentam que deve haver um modelo correto, mas que provavelmente existe como RNA, parente próximo do DNA.
O RNA executa muitos papéis importantes na célula e é o material hereditário de alguns vírus. Mas é menos estável que o DNA e então é considerado inadequado para preservar a informação genética de organismos superiores. Pruitt defende a idéia de que há uma cópia de segurança de RNA para todo o genoma, não só para o gene da cabeça quente, e que pode ser ativada quando a planta está sob estresse, como no caso das que têm os genes da cabeça quente modificados. Ele e outros especialistas disseram que era possível que uma cópia completa do genoma existisse na forma de RNA sem ser detectada, já que não havia razão até agora para procurá-la.Muitas vezes, as revistas científicas levam meses ou anos para publicar artigos que apresentam novas idéias. Mas a "Nature" aceitou o estudo seis semanas após recebê-lo.
Christopher Surridge, editor de biologia da Nature, disse que a descoberta tinha sido discutida em conferências científicas por um bom tempo. Várias pessoas disseram que era impossível e propuseram explicações alternativas, mas os autores verificaram todas e as descartaram, disse Surridge.
Quanto à proposta de um genoma de reserva em RNA, "isso ainda é uma hipótese --basicamente a menos louca para explicar o que está acontecendo", disse Surridge.
Tradução: Deborah Weinberg
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quarta-feira, março 23, 2005
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