Continuação...
Clara nunca se achou bonita, na verdade nunca foi vaidosa. Para o trabalho sempre se vestia de forma clássica, apesar de ser um pouco alta e ter um tipo físico atlético, os terninhos lhe caiam bem. O tempo foi passando, e solteira aos quarenta anos, sentia necessidade de continuar praticando esportes e mantendo o pique. Apesar de muitas amizades, eram poucos os amigos verdadeiros. Sem perceber, ela selecionava seus amigos pelo caráter, queria identificar neles os mesmos valores que prezava. Como a honestidade e o respeito ao próximo, acima de tudo. Infelizmente, no trabalho, numa equipe, num grupo de amigos e até mesmo na família, as diferenças de valores e princípios são inerentes, e os oportunistas inevitáveis. Quando não se tratavam apenas de diferenças de personalidade, mas sim de caráter, Clara era muito rígida. Simplesmente se afastava das pessoas que desprezava.
Sempre foi franca e transparente já no primeiro contato. Deixava evidente sua honestidade e o quanto era importante manter-se fiel a seus princípios. Não tolerava pessoas dissimuladas, que muitas vezes aproveitavam de sua bondade e franqueza. Com estas, rompia em definitivo.
Por muito tempo Clara se sentiu explorada e invariavelmente prejudicada, principalmente no trabalho.
Ainda hoje, convive com assédio, chantagens e tem que assistir passivamente seus planos profissionais serem prejudicados por um chefe implacável e sem escrúpulos. Ela se desvencilha como pode, enquanto espera uma nova proposta de emprego, de onde terá que começar do zero.
Sente-se um pouco frustrada e desanimada gostaria de saber, onde tem errado.
A esta altura da vida esperava estar numa posição melhor, principalmente quando vê os resultados dos projetos que implantou.
Talvez , se tivesse recebido ajuda de um padrinho importante no início de sua carreira, mas sua família era humilde e não tinha muitos contatos.
Talvez, se tivesse cedido às investidas dos chefes, conseguiria uma ascensão meteórica.
Talvez, se não fosse tão inflexível em seus princípios e concordasse com as falcatruas tão comuns nas empresas, seria melhor aceita no mundo executivo masculino.
Talvez, se tivesse aceitado o convite de casamento e o curso de medicina, quem sabe como médica fosse melhor sucedida.
Talvez, se tivesse nascido em berço de ouro, hoje seria uma patricinha metida a empresária com o dinheiro do pai.
Haveria muitos "se", desde que fossem coniventes com esta sociedade masculinizada onde a mulher, mesmo no trabalho, continua a exercer um papel secundário.
A perda dos pais de uma só vez, abalou a família. As irmãs de Clara que haviam renunciado temporariamente ao trabalho para terem seus filhos, agora precisam voltar ao mercado, mas não conseguem emprego. Mesmo com experiência em suas respectivas áreas, são discriminadas pela idade e por terem filhos pequenos.
A vida endureceu Maria Clara, que agora lida com as pessoas na defensiva. Apesar de seus olhos ainda delatarem sua ingenuidade, ela se fechou e agora teme bem mais as pessoas, ficou difícil conquistar sua confiança.
Mas ela não desistiu de lutar pelo que acha justo e correto, mesmo que sofra com isso. Como seus pais, ela continua acreditando que quando se faz o bem, o bem retorna à você.
Assim como ela, muitas mulheres que já foram meninas, sonham em se formar e ter orgulho de sua profissão. De poder contribuir com sua renda e planejar um futuro melhor para sua família.
FIM
Este é um relato verídico para lembrar o Dia Internacional da Mulher.
segunda-feira, março 07, 2005
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