quinta-feira, março 17, 2005

A COMPETÊNCIA DA HORA - RESILIÊNCIA



A forma como você suporta as pressões diz muito sobre sua capacidade de obter sucesso na carreira

Durante quatro anos, de 1999 a 2003, o executivo mexicano Micael Cimet, 51 anos, presidente da EDS para a América Latina, viveu uma espécie de inferno astral. Dick Brown, o CEO mundial da empresa na época, tinha um estilo de trabalho completamente oposto ao seu. "Nós não estávamos na mesma sintonia", diz ele. Micael queria mudanças profundas, transparentes e verdadeiras, enquanto Dick, segundo ele, buscava soluções de curto prazo e superficiais. E nessas horas, para Micael, há somente duas alternativas: ou fugir da encrenca ou ficar e lutar por aquilo que acredita. Ele optou por permanecer. A cada nova crise no relacionamento, Micael assimilava os golpes, procurava relevar as rusgas e jamais perder a paciência para não contaminar toda a equipe com crises de mau humor. A estratégia deu certo. Em 2003, Dick deixou a empresa e Micael pôde continuar seu trabalho com mais tranqüilidade. Essa capacidade de Micael de resistir à pressão, de ser flexível ao extremo e de não perder a cabeça em momentos de tensão é algo cada vez mais valorizado pelas organizações. Tornou-se tão importante que ganhou até mesmo um nome: resiliência, expressão que no dicionário é definida como a capacidade de um objeto de resistir a choques. Transportada para o universo corporativo, pode ser traduzida como a capacidade de um indivíduo ir de um extremo ao outro dos seus limites, como se fosse um elástico, sem se romper. E, se você não possui essa capacidade, precisa começar a desenvolvê-la rapidamente. De acordo com o consultor Eduardo Carmello, autor do livro Supere: A Arte de Lidar com as Adversidades (Editora Gente, 95 páginas), 80% das pessoas têm suas competências diminuídas ou ocultadas quando passam por situações adversas e não conseguem lidar bem com elas. Portanto, a flexibilidade e a resistência nos momentos de tensão facilitam muito a vida. "O resiliente é uma espécie de equilibrista de pratos do circo", diz Eline Kullock, presidente do Grupo Focos, consultoria especializada em recursos humanos. "A pessoa tem de estar muito concentrada e consciente do que está fazendo para manter todos os pratos equilibrados. E, se um deles cair, não pode se abalar, pois precisa continuar girando os demais e prosseguir com sua apresentação." O consultor e palestrante Tom Coelho concorda com Eline. "O resiliente se torna ator de seu destino. Ele não se abate, não se queixa e não se curva. Se algo dá errado, procura compreender as razões do fracasso e tenta reverter o quadro."
Maiores chances de sucesso Por terem uma postura tão proativa e ao mesmo tempo não se abater diante das dificuldades que encontram no dia-a-dia, os profissionais resilientes são cada vez mais cobiçados para ocupar cargos estratégicos nas organizações. "Os resilientes são muito valorizados atualmente", afirma a headhunter Iêda Novais, da Mariaca & Associates.
Várias organizações já criaram ações para desenvolver essa competência em seus funcionários. A Phillips, por exemplo, desenvolveu o Projeto Ação Inteligente Contínua exatamente para torná-los mais flexíveis e tolerantes às mudanças. "Se a companhia oferece condições para o profissional pensar, refletir e raciocinar melhor, seguramente ele irá produzir mais", diz Elizabeth Amadei Nogueira, assessora do departamento de saúde e qualidade de vida da empresa. A Bosch, por sua vez, promove há dez anos uma série de atividades que visa aumentar em seus colaboradores a capacidade de suportar as pressões do dia-a-dia, além de lidar com situações adversas de maneira mais saudável. O programa começa com a avaliação 360 graus e o mapeamento das competências individuais. Se houver necessidade, a pessoa que tem deficiências passa a participar de eventos como seminários, jogos e atividades esportivas que a estimulam a superar limites, correr riscos e trabalhar com uma série de situações imprevisíveis. "Já que não é possível eliminar a pressão, acreditamos que o melhor é trabalhar o fortalecimento da resiliência em nossa equipe", diz Arlene Heiderich, gerente de recursos humanos para a América Latina.
Marcelo Munerato de Almeida, 34 anos, diretor executivo da AON Consulting, é outro bom exemplo de profissional resiliente. Ele lembra de quando recebeu um convite para substituir um executivo de uma empresa recém-adquirida pela AON em Belo Horizonte que tinha praticamente o dobro da sua idade. Marcelo estava com 29 anos na época. Os outros executivos, que ficariam sob seu comando, também eram bem mais velhos. "Resolvi usar os fatores adversos, como a pressão e a desconfiança, para motivar a equipe a alcançar os resultados", afirma. "Adotei o discurso de que eu não chegaria a lugar algum sozinho e que precisava da ajuda deles. Valorizei o trabalho de cada um, apesar da resistência de algumas pessoas, e aos poucos o quadro foi melhorando." Em um ano, todos assimilaram a cultura da AON.
Saúde em dia Saber enfrentar melhor os problemas tem também um impacto positivo na saúde. Segundo uma pesquisa realizada no Brasil pela International Stress Management Association (Isma-Brasil), 83% das pessoas não podem ser consideradas resilientes. Ainda de acordo com o estudo, 80% desses entrevistados têm mais chances de desenvolver problemas emocionais como depressão e ansiedade; 75% de apresentar sintomas físicos como dores de cabeça e musculares, azia e alergias; e 72% de ter desvios comportamentais como agressividade, passividade e dependência química.
Ser resiliente, portanto, faz com que a pessoa não se estresse tanto. Ana Maria Rossi, presidente da Isma-Brasil, diz que isso, por si só, já deveria ser suficiente para que as pessoas se conscientizassem da necessidade de ser mais flexíveis. "Nem todo mundo que é resiliente consegue alcançar o sucesso que sonhava", diz. "Mas o que realmente está em jogo não são os resultados que a pessoa obterá no futuro, e sim o preço do desgaste físico e emocional."
Para se tornar uma pessoa resiliente não é preciso estudar nenhuma técnica. Para Marcelo Munerato, da AON, a busca pelo autoconhecimento foi fundamental. "O trabalho voluntário, por exemplo, me deu muitas lições de vida. Se aquela pessoa que você ajuda vive precariamente e sorri, porque você não pode fazer o mesmo?"
EM BUSCA DO EQUILÍBRIO Dez dicas para você se tornar uma pessoa resiliente:
1. Em vez de se perguntar "por que isso aconteceu comigo?", procure se incluir na situação.
2. Crie significado para a sua realidade de vida. Ele lhe dará a esperança de um futuro melhor.
3. Procure conhecer a verdadeira dimensão dos problemas. Os boatos só alimentam a tensão e o desespero.
4. Separe quem você é do que você faz.
5. Tente visualizar seu futuro próximo e antecipar acontecimentos para fazer frente às transformações de cenário.
6. Não perca tempo com reclamações. Procure solucionar o problema.
7. Fique atento aos seus sentimentos e às necessidades de seu corpo, como sono, cansaço, fome etc.
8. Para não se tornar uma pessoa rígida e inflexível, tenha a criatividade como parceira constante.
9. Cultive e valorize seu poder de escolha.
10. Encare e gerencie as adversidades como situações passageiras.

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Fonte: Revista Você S/A

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