Folha Online (hoje)
Os consumidores e empresas brasileiras pagam um total de R$ 118 bilhões por ano em juros, segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
A alta despesa com juros deve-se mais às taxas elevadas cobradas pelos bancos do que ao grande volume de empréstimos contratados. Segundo pesquisa da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, os brasileiros pagaram em janeiro 8,31% de juros de cheque especial ao mês (160,63% ao ano) e 6,21% mensais em média para os empréstimos pessoais (106% ao ano).
Empresas também arcaram com juros altos no país: 4,18% ao mês para capital de giro e 5,75% ao mês para conta garantida (espécie de cheque especial das empresas). Com essas taxas, o país continua entre aqueles que possuem os maiores spreads bancários do mundo. Spread é a diferença entre a taxa cobrada pelas instituições financeiras para emprestar dinheiro e a taxa que pagam para captar recursos. O spread brasileiro atingiu, em 2004, em média, 28,1 pontos percentuais, de acordo com o Banco Central.Em 2003, o país disputava com o Paraguai o título de campeão dos spreads altos. Segundo estudo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), baseado em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil estava em primeiro lugar, com um spread de 43,7 pontos percentuais ao ano - o maior entre 102 países pesquisados. De acordo com o cálculo do Banco Central, o spread à época seria de 31,9 pontos e o Brasil estaria em segundo, perdendo o lugar no topo do ranking para o Paraguai (37,6 pontos percentuais). Para o professor Marcos Cintra, vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas, o que compõe o spread bancário é o poder de mercado. "Como a demanda é maior que a oferta no setor bancário brasileiro, que é centralizado e cartelizado, o valor do spread vai lá para o alto". Segundo o professor, a concorrência entre os bancos no Brasil é muito fraca, porque agem de comum acordo, são oligopolistas e com isso detêm o poder de fixação de preços. "A atuação da Febraban é muito questionável, pois os executivos de cada banco reúnem-se lá para traçar estratégias de mercado", critica.Já nos Estados Unidos, segundo Marcos Cintra, não existe um órgão que funcione como a Febraban, pois a concorrência entre os bancos é enorme, "o que beneficia o consumidor". "Se dois presidentes de bancos são vistos almoçando juntos, já se abre um processo contra eles por suspeita de negociação comercial e consequentemente, de cartelização", enfatiza Marcos.
O economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, afirma que a atuação da instituição é cooperativa e que não influencia na competitividade entre os bancos, que segundo ele é grande. "Uma prova de que existe muita competitividade no setor bancário é o caso dos bancos estrangeiros, que chegaram cheios de expectativas ao Brasil e não obtiveram grandes resultados por aqui", afirmou ele.Segundo o economista, para baixar o spread bancário no Brasil é preciso reduzir o compulsório (quantia recolhida dos bancos pelo BC para diminuir a liquidez do mercado), os impostos e os recursos direcionados ao crédito rural e imobiliário. Além disso, "para os juros caírem, é necessário aumentar as garantias para quem fornece o crédito", analisa.
Fonte - Agência Brasil
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