Aumento da produtividade e melhora do ambiente de trabalho são resultados de programas para recuperar funcionários dependentes de álcool e drogas.
Menos de 5% das empresas da cidade de São Paulo oferecem aos funcionários programas de prevenção e controle do uso de álcool e drogas. Isso foi o que revelou uma projeção de dados feita pela Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas), entidade sem fins lucrativos que congrega profissionais que trabalham no campo da dependência química no Brasil.
Do outro lado, pesquisa do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) de 2001 aponta que o número de dependentes no país é de 15% da população de 12 a 65 anos.
Segundo especialistas, a compreensão de que a dependência química é uma doença -e não um desvio de comportamento- é fundamental para que os empregadores passem a investir na recuperação dos funcionários e na prevenção do problema.
A relevância desse investimento se reflete na produtividade. Dados revelados por pesquisas da AMA (American Management Association) mostram que 65% dos acidentes de trabalho nos Estados Unidos estão ligados ao uso de álcool e de outras drogas.
Ainda segundo a Ama, o custo anual, somando perdas patrimoniais, acidentes de trabalho, baixa produtividade e despesas médicas, entre outros fatores que envolvem usuários de drogas, foi de US$ 180 bilhões nos Estados Unidos em 2003. No Brasil, projeções da associação americana chegam a cerca de US$ 19 bilhões.
Além disso, nos EUA, funcionários envolvidos com drogas e álcool faltam dez vezes mais do que os que não são usuários, chegam três vezes mais atrasados, são um terço menos produtivos e usam 16 vezes mais os serviços de saúde.
Apoio
Por outro lado, estruturar esses programas é pensar a longo prazo. Dados do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) mostram que, para cada dólar investido pelas empresas em tratamentos a dependentes químicos, existe um ganho de US$ 3. Há ainda redução de 91% das faltas, diminuição de 88% dos problemas disciplinares e 97% menos casos de acidentes de trabalho.
"Esses programas são interessantes para as empresas por várias razões", analisa Luiz Alberto Chaves de Oliveira, médico especializado em dependência química e secretário do Conen-SP (Conselho Estadual de Entorpecentes). "Pelo lado econômico, já que é caro demitir o funcionário e fazer a reposição; pelo lado da responsabilidade social; do ponto de vista da segurança; da melhora no ambiente de trabalho e, por fim, custa pouco manter uma iniciativa de prevenção e tratamento."
Ana Cecília Petta Roselli Marques, presidente da Abead e psiquiatra da Unidade de Dependência de Drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), no entanto, tem ressalvas.
"Muitas vezes, as firmas que têm programas prestam atendimento médico-ambulatorial e psicológico a funcionários que tiveram resultado positivo nos exames toxicológicos em até duas vezes. Após a terceira reincidência, ele corre o risco de ser demitido."
Nos EUA, 55% das firmas adotam controle para usuários de drogas. No Brasil, o Ministério da Saúde implantou o Programa Atenção Especial ao Usuário de Droga e Álcool em 2000.
"A participação conjunta de família, empresas e sociedade civil na prevenção e no combate ao uso de drogas é fundamental. Essa seria uma forma de gerar mudanças efetivas no combate à dependência química", afirma Marques.
SELMA OROSCO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
terça-feira, setembro 21, 2004
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