terça-feira, janeiro 02, 2007

POR DENTRO DO SETOR DE SHOPPING CENTER

GUILHERME WISNIK - Shopping na contramão
Jornal Folha de SP de 18/12/06

Tudo à nossa volta vai se convertendo em shopping: aeroportos, estações, hospitais e museus

É RECORRENTE na história do Brasil o fato de vivermos atrasados em relação aos "países centrais". Um exemplo conhecido é o "barroco mineiro", que florescia entre as montanhas de Ouro Preto enquanto a Europa já era neoclássica havia cem anos. Defasagens que, no plano da cultura, não deixaram de ser vantajosas, favorecendo nossas "singularidades". No entanto, como considerar essa mesma "vantagem do atraso" no caso de processos econômicos e urbanísticos? Refiro-me ao protagonismo dos shopping centers nas cidades. Pois, enquanto nos Estados Unidos ele decresce drasticamente desde os anos 90, momento em que se passou a falar na "morte do "mall'", aqui os shoppings vivem seu auge, praticamente dobrando a cada cinco anos desde 1980 e se consolidando como uma das formas mais rentáveis de investimento.A pesquisa "Guide to Shopping", desenvolvida pela Harvard Design School (ed. Taschen, 2001, R$ 193), descreve cenários desoladores à beira das auto-estradas americanas: cemitérios de "malls", carcaças decrépitas com enormes estacionamentos vazios, "dinossauros" incapazes de competir com o sistema de compras digital. Produtos da era do automóvel e da geladeira, que permitiram fácil transporte e estocagem de produtos, os grandes centros varejistas são hoje um modelo em decadência, padecendo do mesmo ciclo de obsolescência estrutural que produziu o seu "boom" há 50 anos. No caso dos shoppings, com o agravante de serem construções inicialmente baratas, mas com custos de manutenção muito altos.Já no Brasil a indústria do shopping mantém grande vitalidade, tendo suas vendas representado, como informa a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), quase 20% do faturamento de todo o varejo nacional. Processo que é facilmente perceptível nessas semanas que antecedem o Natal, bem como nas recentes ampliações de shoppings que já eram grandes (Plaza Sul, Morumbi etc.).O que explica esse descompasso? O atraso na generalização do comércio virtual no Brasil? O fato de aqui os shoppings não serem suburbanos, mas quistos em áreas nobres da cidade, desempenhando ainda um papel de "passeio público" em que se pode até, em alguns casos, circular com o seu cãozinho de estimação? De qualquer maneira, o epitáfio do shopping parece decretado. O que significa a morte de uma determinada tipologia: o encapsulamento do comércio na forma de uma minicidade, na longa tradição do bazar árabe ou das galerias comerciais européias. Em contrapartida, tudo à nossa volta vai se convertendo em shopping: aeroportos, estações, hospitais, museus. E mesmo pelo celular somos abordados por serviços de telemarketing "convidando-nos" a comprar. O que nos faz lembrar que o mercado sempre teve um papel estruturante na constituição das cidades, seja na ágora grega ou nas portas das muralhas medievais. Mas que, com a mercantilização da vida, vai deixando de ser um pólo agregador de pessoas em um espaço comum e ritual, tornando-se um princípio radical de desterritorialização.


Fundos de pensão são a porta para estrangeiro em shopping
Cintia Esteves
Jornal DCI em 18/12/06

Os fundos de pensão estão saindo de shopping centers não considerados rentáveis e abrem espaço para investidores estrangeiros, capazes de captar dinheiro a custo baixo e ávidos por explorar o setor no Brasil. Fontes de mercado afirmam, por exemplo, que a Fundação dos Economiários Federais (Funcef), fundo da Caixa Econômica Federal, quer vender sua participação do Parque D. Pedro Shopping, o maior centro de compras da América Latina em área bruta locável (ABL), localizado em Campinas (SP). Segundo estas fontes, este empreendimento enfrenta alta concorrência do Shopping Iguatemi Campinas e só deverá alcançar sucesso no longo prazo. Recentemente, o Continental Shopping (SP), que está a venda, foi sondado pelo Grupo Irsa, que tem forte atuação em shopping centers na Argentina. As negociações não foram para frente, mas os argentinos continuam dispostos a investir no Brasil. Eles querem marcar posição assim como seus pares de outros países.O mais recente acordo foi fechado entre a Sonae Sierra Brasil, empresa do grupo português Sonae SGPS que administra nove shoppings no País, e a Developers Diversified, que detém e gere mais de 500 empreendimentos nos Estados Unidos e Porto Rico.Na mesma linhas, a Multiplan vendeu 46% ao fundo canadense Cadillac Fairview em junho último. Já a Ancar vendeu parte de sua administradora ao fundo canadense Ivanhoe Cambridge.
Tendência:
Depois dos supermercados, os shopping centers se transformaram no segmento do varejo que mais atrai investimentos estrangeiros no Brasil. Consultores afirmam que uma das explicações para a retirada dos fundos de pensões dos centros de compras é que, principalmente durante a década de 80, estes fundos fizeram aquisições equivocadas e agora tentam se livrar dos empreendimentos com pouca rentabilidade. Além disso, o limite de investimento destes fundos em imóveis terá que ser reduzido para que eles se adequem as novas regras do setor. Até 2005 o teto de aplicações neste setor era de 14%, atualmente é de 11% e chegará a 8% a partir de 2009. Um caso recente de saída de fundos de um shooping aconteceu no paulista Shopping D&D. Trinta e dois fundos de pensão detinham cerca de 65% de participação no empreendimento. O Grupo Interamericano, dos Estados Unidos, comprou boa parte do centro de compras. Atualmente estes fundos detém cerca de 20% do empreendimento. O consultor de shopping centers Arnaldo Kochen, da Kochen Associados, afirma que outro motivo para a intensificação da saída dos fundos nestes empreendimentos é a falta de acordo entres os sócios. “Os fundos de pensão costumam se associar a empresas do ramo de shoppings e estas ficam com a gestão do centro de compras. As decisões destes sócios gestores às vezes não são as mesmas que os dirigentes de fundos tomariam”, diz. Melhor investimentoPara George Belham, da Shopinvest, shopping center é o investimento ideal para os fundos de pensão porque são aplicações de baixo risco. “Um shopping center possui vários tipos de lojas, se uma vai mal, a outra pode ir bem. O problema é que muitos fundos investiram em shoppings errados e agora estão tentando se livrar deles”, afirma Belham. Outra tendência apontada por consultores é a aquisição de shoppings em regiões como interior de São Paulo e estados como Bahia e Amapá por fundos estrangeiros. “Muitos centros de compras nestas regiões são de empresários locais. Os estrangeiros querem investir no Brasil e precisam ter grandes cadeias para que eles possam trabalhar em escala”, diz Belham. O consultor acrescenta que os fundos de pensão estão saindo dos empreendimentos que não estão apresentando boa rentabilidade, mas desejam continuar e, em alguns casos, ampliar a participação em shoppings consolidados.Os consultores também apontam que há uma tendência de associação entre as administradoras de shoppings brasileiras, como forma de financiar expansões em seus empreendimentos. De acordo com dados da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), este ano há 55 obras de centros de compras no País e outros 22 estão em projeto.

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