Relatório da ONU diz que 0,54% do PIB das nações desenvolvidas reduziria a miséria mundial pela metade até 2015
NOVA YORK - O Brasil não precisa de ajuda externa para combater a pobreza. O país pertence a um grupo de nações em desenvolvimento e de renda média capaz de financiar com recursos próprios programas para cumprir as chamadas Metas do Milênio, estabelecidas pelos Estados-membros da ONU, em 2000, a fim de reduzir a extrema pobreza no mundo pela metade, até 2015. A conclusão é do estudo ''Investimento no desenvolvimento: um plano prático para alcançar os objetivos do Milênio'', elaborado por especialistas a pedido da ONU e divulgado ontem. O Brasil é citado ao lado de nações como a China, a Índia e a Malásia. O documento diz que até 30 países da África devem receber rapidamente doações dos países ricos para lidar com a pobreza e doenças como a malária e a Aids. O documento, elaborado sob o comando do economista americano Jeffrey Sachs, diz que mais de 500 milhões de pessoas serão retiradas da pobreza extrema e 30 milhões de crianças serão salvas se os países ricos dobrarem a ajuda às nações em desenvolvimento nos próximos 10 anos. ''Muitos países de renda média, como o Brasil, a China e a Malásia, já são doadores. Recomendamos que estes e outros países bem-sucedidos na redução da pobreza, como a Índia, aumentem os esforços, com contribuições financeiras e treinamento técnico para os parceiros de baixa renda'', diz o texto da ONU. Segundo o relatório, o mundo terá tempo de reduzir a extrema pobreza até 2015 se levar a sério a tarefa e solucionar o problema causado pela falta de recursos. O grupo liderado por Sachs foi formado com 265 consultores para o chamado ''Projeto do Milênio'' e oferece propostas concretas para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) assinados em 2000, em uma reunião da ONU. O próprio secretário-geral, Kofi Annan, que encomendou em 2002 aos especialistas o estudo divulgado ontem, terá o documento como base para a apresentação, em março, de um comunicado aos Estados membros, antes da reunião do G-8 em julho e da cúpula de setembro, em Nova York, que marcará os 70 anos da ONU. Para as Nações Unidas, 2005 é um ano crucial para a concretização dos objetivos. Transcorridos cinco anos do prazo fixado, alguns países, sobretudo na Ásia, estão a caminho de alcançar a meta, mas muitos, especialmente na África subsaariana, ainda estão muito distantes. - Reduzir à metade a extrema pobreza até 2015 se tornou mais difícil porque se perdeu um tempo precioso nos primeiros anos - declarou à imprensa Mark Malloch Brown, administrador do Programa da ONU para o Desenvolvimento e novo chefe de gabinete de Annan. - Porém, com a mobilização adequada dos recursos, com vontade política e reformas, tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos, o objetivo ainda é factível. Para que a meta seja alcançada, os especialistas afirmam que bastaria um investimento de 0,54% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países desenvolvidos, cifra inferior à que se comprometeram na Cúpula de Monterrey para o financiamento do desenvolvimento em 2002, quando concordaram em dedicar 0,7% do PIB. - Somente honrando os compromissos já adotados por ambas as partes: bons governos, financiamento adequado, livre intercâmbio, acesso global à ciência e à tecnologia, é que poderemos pôr fim à extrema pobreza no planeta daqui a uma geração (2025) e certamente reduzi-la à metade até 2015 - afirmou Jeffrey Sachs. Por enquanto, a ajuda dos países ricos tem sido muito menor: 0,25% do PIB em média, como foi registrado em 2003. ''A resposta generosa da comunidade mundial ao desastre causado pelo tsunami no Oceano Índico mostrou que os cidadãos dos países ricos aprovam a ajuda aos pobres, se entenderem claramente suas necessidades e estiverem certos de que o dinheiro oferecido chegará ao destino e realmente ajudará a quem necessita'', estima o comunicado. Uma recomendação é a de que em 2005 países ricos e pobres lancem ações de ''alcance rápido'', projetos baratos mas de impacto, como a alimentação gratuita em escolas, geradores de energia solar para hospitais e entrega de medicamentos contra a AIDS. A entrega gratuita de mosquiteiros de US$ 5 para os países afetados pela malária conseguiria por si só impedir a morte de 250 mil crianças africanas por mês - afirmou Jeffrey Sachs.
Fonte: Uol
terça-feira, janeiro 18, 2005
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