quinta-feira, novembro 11, 2004


POR QUE HÁ POUCOS NEGROS NAS LOJAS?

por Miriam Leitão

É preciso ter olhos e ver o que há de errado no Brasil, do contrário ele jamais será o país que sonhamos.
Os brasileiros têm estado cegos para certos problemas. Veja-se, por exemplo, os negros. Eles não estão em inúmeros lugares em que seria normal que estivessem. O que me fez Ter essa noção foi a pergunta de um banqueiro americano. Ele quis saber qual era o percentual de negros na população brasileira. Ouviu que era 46% e perguntou: - Onde é que eles estão?
Essa é a pergunta que qualquer brasileiro branco deve se fazer. Eles não estão nos restaurantes que frequentamos, nos bairros onde moramos, na escola onde estudamos, nas nossas festas. E eles não estão nas lojas dos shoppings. Se na sua loja há atendentes negros, ótimo, mas olhe em volta e verifique se essa é a regra. Vamos conversar francamente: por que não há negros, ou há tão poucos negros, nas lojas dos shoppings?
Outro dia eu vi uma vendedora negra no fashion Mall do Rio de Janeiro. Novidade pura. Estava na loja recém aberta da MAC. Não por acaso. Os americanos já aprenderam há muito tempo que diversidade tem que ser um objetivo de cada empregador. Que existe uma coisa chamada recrutamento ativo, a busca deliberada de pessoas diferentes entre si. Isto Isto faz com que os 13% de negros que eles têm sejam visíveis na elite americana e os nossos 46% sejam tão invisíveis.
Aqui, uma explicação: negro é o nome que o IBGE dá a quem é pardo e quem é preto. Preto é quem tem pele mais escura. Mas ambos pertencem ao mesmo grupo. Há quem ache que é um erro somá-los. Fui conferir em 18 indicadores sociais. Em todos - seja analfabetismo, desemprego, renda - a distância social entre brancos e pardos ou entre brancos e pretos é enorme, mas entre pardos e pretos é pequena. Conclusão: sociologicamente eles estão no mesmo grupo.
Se você faz parte da maioria convencida de que o Brasil é um país melhor que os outros, do mulato inzoneiro, da mistura das raças, em que nunca houve racismo, infelizmente tenho que dizer: o Brasilnunca teve segregação oficial, como nos Estados Unidos e África do Sul, mas sempre discriminou. Silenciosamente, por baixo dos panos. E temos heranças horrorosas do passado escravista. Uma delas está lá nos elevadores social e de serviço, um eufemismo para dar ao porteiro o direito de constranger os negros a ir pelo elevador de trás, destinado a cargas e compras. O lema para acabar com esta vergonha tem que ser: todos pelo social.
Criamos barreiras não explícitas que impedem a ascenção dos negros. Há quem diga que no Brasil só há discriminação social e não racial. Isto, a bem dizer, não torna menos vergonhosa a discriminação, mas não é toda a verdade. As estatísticas são reveladoras: negros e brancos com o mesmo nível de escolaridade têm renda diferente, o branco ganha quase o dobro do que ganha o negro. O que você me diz disto? É ou não é discriminação racial?
Sua atitude isolada não vai mudar o mundo, mas será um passo: o seu passo, na direção certa. Pergunte qual é a desculpa que você está dando para você mesmo não Ter negros na loja: eles moram longe e não chegariam para o trabalho? Você exige “boa aparência” e não apareceu nenhum candidato que preencha este quesito? Não será o seu conceito de “boa aparência” que está errado? A cantora de rap Negra Li contou que certa vez ouviu no RH de uma empresa que a recusou: “para este emprego precisa ser bonita”. Ela é bonita. Aquela empresa estava discriminando.
Hoje as corporações americanas e européias incluíram a diversidade como parte dos valores da boa empresa. Junto com responsabilidade social e ambiental. Tome uma atitude você também e contrate negros para a sua loja.

Fonte: Revista Alshop (Assoc. Bras. de Lojistas de Shopping)

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