terça-feira, junho 21, 2005

ASSUMINDO O COMANDO


Foto - Ministra Dilma Rousseff Posted by Hello

Imagine uma sala de reuniões. Há alguma dúvida de que ocupar a cadeira na ponta da mesa seja a meta de todos ali presentes?
A chefia, a gerência, a diretoria são degraus naturais na carreira de uma executiva. "A aspiração de ocupá-las faz parte do desejo e da necessidade de crescimento peculiar da natureza humana", como diz a psicóloga Fátima de Souza Trindade, orientadora profissional e de carreira da GW Vocação e Relações Humanas, de São Paulo.

Qual é o momento certo
O momento de assumir a chefia de um grupo, que a moderna orientação de carreiras prefere chamar de "liderança", no entanto, é extremamente delicado. A decisão exige muito mais do que o conhecimento técnico localizado, da atividade direta do departamento ou da divisão que será liderada, mas uma ampla visão de todo o negócio da empresa ou instituição e, principalmente, competência para a gerência. "Não é incomum uma empresa promover uma excelente técnica para uma função de gerência e depois descobrir que ela não se adapta à mobilidade exigida pelo cargo", diz Fátima.
"Saber lidar com as pessoas é uma das principais características para se transformar em um bom líder"
Qual poderia ser a causa dessa dissonância? A mais provável é a não adequação do perfil da pessoa escolhida à nova função. A resposta pode parecer óbvia demais, mas a situação não é rara e pode ter conseqüências desastrosas. A escolha equivocada, e a necessidade de repará-la, acaba por matar a auto-estima do escolhido, que percebe a volta ao seu antigo posto como um retrocesso.
Só aceite se estiver pronta
O mais importante é que, diante da sedutora possibilidade de uma promoção, você mesma se avalie: está preparada? Se a resposta for "não", recuse, mesmo que apenas temporariamente, o convite. Essa atitude exige maturidade e muito autoconhecimento, mas não configura nenhuma tragédia. "Quando não temos uma competência, isso não significa que não podemos desenvolvê- la. A consciência de nossa própria fragilidade diante de uma nova demanda ou desafio deve servir como um incentivo para se preparar", completa a psicóloga.
"A consciência da própria fragilidade deve servir como um incentivo para se preparar melhor"
Se as habilidades podem ser desenvolvidas, nem sempre é possível aperfeiçoar as características de personalidade que caem bem em um bom chefe. Uma boa chefia não se mede apenas por metas cumpridas ou lucros obtidos. "Para alguém que não sente genuíno prazer em lidar com as pessoas, uma função de mando talvez não seja a mais indicada. O chefe, inevitavelmente, tem de lidar com as especificidades de cada um na equipe, o que nem sempre é previsível ou controlável", resume a psicóloga.
AS QUALIDADES BÁSICAS DE UM BOM CHEFE
Auto-conhecimento
Capacidade de perceber os outros
Empatia com a equipe
Firmeza
Rapidez de decisão
Saber delegar
Saber compartilhar informações
Saber negociar
Facilidade de comunicação
Controle de si e da equipe
Ouvir mais do que falar
Valorizar a equipe
Motivar o grupo
Ser atento às expectativas da corporação
Manter o foco em qualidade e desenvolvimento
Ter flexibilidade para mudanças
Ser criativo
Ser ético
Necessidades da equipe
Há casos desastrosos em que um chefe é capaz de acabar com a estabilidade do grupo, desmantelá-lo completamente ou impedir que seus membros cresçam. E nem sempre ele é má pessoa, mas não tem a sensibilidade necessária para se dar bem no cargo. Isso estabelecerá o clima de trabalho e, por conseqüência, interferirá sobre a motivação e a produtividade do grupo. "É uma trama nem sempre mensurável, nem sempre perceptível à primeira impressão, mas que o líder deve considerar todo o tempo em sua atividade", defende a psicóloga.
Então, a pergunta: será que tenho esse perfil? Se você sinceramente responder "sim" a si mesma, a cadeira na cabeceira da mesa é o lugar certo. Bastará que você se prepare muito bem, ampliando sua visão do negócio, procurando saber, de forma clara, quais são as expectativas da organização em relação ao seu desempenho, buscando o mais profundo conhecimento sobre as potencialidades e fraquezas de sua equipe, as condições instaladas e por instalar para cumprir sua missão e, a partir daí, alinhar sua estratégia de planejamento e ação que, seguramente, chegará a bom termo, pelo menos no que depender de seu setor. E tenha uma boa liderança.
O preço pode ser alto: solidão
Estar no topo é estar só. Embora os conceitos mais modernos de administração preconizem o trabalho em equipe, no geral o chefe é quem vai dar a última palavra. Por isso, a chefia quer dizer, muitas vezes, solidão. Os liderados freqüentemente não gostam que o líder demonstre fragilidade, dúvida, insegurança diante do caminho a seguir. Mas a chefe também é humana.
Por reconhecer isso, na dura caminhada na direção da perfeição executiva, muitas empresas amparam seus gerentes e diretores com a contratação de conselheiros, mentores recrutados dentro ou fora da empresa que do alto de sua experiência receba os chefes de forma acolhedora e isenta para pensar junto com eles e examine suas alternativas até aponte certos caminhos que eles próprios já pisaram. No posto de CEO de uma empresa, por exemplo, o executivo tem a percepção de viver em um mundo acelerado, no qual tudo acontece muito rapidamente em que a pressão por resultados é altíssima.
A mudança contínua, provocada por novas tecnologias, faz com que eles saibam que ele e seus iguais permanecerão em seus cargos por tempo cada vez mais curto. A orientadora vocacional Fátima Trindade baseia-se na reflexão do sociólogo alemão Zigmund Bauman para caracterizar este clima geral que é um dos principais motivos da síndrome da solidão dos líderes: "Antes o que valia era a a lógica cartesiana, por meio da qual o que valia eram as estruturas, a hierarquia. Hoje domina a chamada lógica dos fluxos, onde tudo é passível de mudanças".

Fonte: Revista Vida Executiva

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