O Brasil ficou em 51º em um ranking de 58 países que mede a desigualdade social entre homens e mulheres, segundo estudo divulgado nesta segunda-feira pelo Fórum Econômico Mundial.De acordo com o Fórum, o estudo é inédito e leva em conta cinco itens, segundo os padrões do Unifem (Fundo das Nações Unidas para as Mulheres) para avaliar a desigualdade entre homens e mulheres: participação econômica (igual remuneração por igual trabalho); oportunidades econômicas (acesso a empregos não restritos à baixa remuneração e à ausência de preparo); presença em cargos decisórios, inclusive na política; acesso a educação; e acesso a serviços de saúde.Na classificação geral, o Brasil ficou atrás de países como Bangladesh (39º) e Zimbábue (42º). A Argentina ficou em 35º. A melhor colocação do Brasil foi em oportunidades econômicas (21º lugar) e a pior, no índice de presença em cargos decisórios (57º). Em termos de acesso a educação, o Brasil ficou em 27º lugar, enquanto a Argentina ficou em terceiro.Segundo a pesquisa, o principal problema no Brasil e nos demais países da América Latina é a falta de garantia de direitos básicos, "como acesso a serviços de saúde e presença em cargos decisórios".O estudo avaliou dados de 30 países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e outros 28 em desenvolvimento. A pontuação dos países no ranking vai de 1 a 7 --quanto mais perto do 7, menor a desigualdade. O Brasil ficou com 3,29 pontos. Os EUA ficaram em 17º lugar, com 4,40 pontos. No item de oportunidades econômicas, ficaram atrás do Brasil, em 46º lugar, devido à licença-maternidade insuficiente e à falta de benefícios sociais durante a licença, além da falta de creches públicas, segundo o documento.Os cinco primeiros lugares foram ocupados por Suécia, Noruega, Islândia, Dinamarca e Finlândia, respectivamente --a Suécia ficou com 5,53 pontos. Segundo o estudo, "embora nenhum país tenha conseguido eliminar a diferença entre homens e mulheres, os países nórdicos tiveram mais sucesso em diminuí-la e em fornecer um modelo funcional para o resto do mundo"."Caracterizados por suas sociedades liberais, com um impressionante registro de abertura e transparência no governo e redes de proteção social abrangentes (...) as mulheres nesses países têm acesso a um espectro maior de oportunidades educacionais, políticas e profissionais", diz o documento.Segundo o economista-chefe e diretor do Programa de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, Augusto Lopez-Claros, o objetivo do estudo é "fornecer uma ferramenta para medir a diferença entre os gêneros nesses países (...) e dar oportunidades para que os países aprendam com as experiências dos que foram mais bem-sucedidos na promoção da igualdade entre homens e mulheres".
VINICIUS ALBUQUERQUE da Folha Online
Negros começam a ganhar visibilidade no Brasil
Atores destacam-se no país com segunda maior população negra.
O ator Lázaro Ramos, que deu seus primeiros passos na escola de teatro do grupo musical Olodum em Salvador, é o símbolo da conquista de espaço para os atores negros nas telas de cinema brasileiras.Ramos trabalhou em dez filmes nos últimos três anos, é o protagonista de uma série de TV de sucesso e apresenta um dos programas de maior audiência no Brasil. Mas há apenas cinco anos seu êxito seria inimaginável. Os filmes brasileiros dificilmente tinham protagonistas negros.Nas populares telenovelas, de um total de 40 personagens há em média três ou quatro para atores negros, e sempre em papéis secundários."Havia uma verdade quase inquestionável: que os negros não davam audiência, não funcionavam na publicidade e não levavam o público ao cinema", lembra o diretor de "Cidade de Deus", Fernando Meirelles. Apesar de o Brasil ter a segunda maior população negra do mundo, depois da Nigéria, com 47% da população negra ou mestiça, os negros eram invisíveis nas telas. O carnaval era a exceção.Quando começou a produzir "Cidade de Deus", Meirelles queria ser o mais realista possível. Investiu seis meses em uma escola de preparação de atores, em sua maioria negros, nascidos nas favelas do Rio de Janeiro. Com o sucesso do filme, que teve quatro indicações para o Oscar em 2004, uma série televisiva com o mesmo elenco foi realizada e obteve grande repercussão. "Essa idéia de que os negros não davam audiência desmoronou", diz Meirelles. Outro filme com protagonistas negros, "Carandiru", de Hector Babenco, segue o caminho de "Cidade de Deus" e se transformará em série de televisão.Esses dois filmes foram os maiores êxitos do cinema brasileiro nos últimos dez anos. Muitos atores de "Cidade de Deus", como Darlan Cunha, Jonathan Haagensen e Seu Jorge, já estrelaram séries de TV e telenovelas.No ano passado, a atriz Thaís Araújo, ao liderar o elenco da bem sucedida novela "Da Cor do Pecado", conseguiu ser a primeira estrela negra em quase 40 anos de telenovelas da Globo, o principal canal de televisão do Brasil.A novela em que Thaís atuou obteve recorde de audiência. A produção que a sucedeu no mesmo horário tem agora nove atores negros, outro número inédito. A jovem atriz esteve nas capas de revistas de moda em um país onde as passarelas são dominadas por modelos louras."Até pouco tempo atrás os papéis para negros se resumiam a escravos em produções de época ou empregadas domésticas", conta Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia pela Universidade de São Paulo. "Agora os personagens negros são atuais e urbanos e falam do surgimento de uma numerosa classe média negra", acrescenta.O preconceito produziu absurdos na ficção. Em 2001, a telenovela "Porto dos Milagres" tinha seis atores negros de um total de 40, embora o enredo transcorresse na Bahia, terra de Carlinhos Brown, Estado do nordeste brasileiro onde 80% da população é mestiça.Durante décadas, o Brasil acreditou nas teorias desenvolvidas pelo sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987), de que o país era uma "democracia racial". "Todo brasileiro traz na alma e no corpo a sombra do indígena ou do negro", dizia o autor. Acreditava-se que o racismo não existisse, devido à profunda mestiçagem e à inexistência de qualquer movimento de segregação, ao contrário dos Estados Unidos.Mas o Brasil foi o último país americano que proibiu a escravidão, em 1888, pouco depois da Jamaica e de Cuba, então colônias da Inglaterra e da Espanha, respectivamente. Em pouco mais de um século de liberdade, os descendentes de escravos tiveram muita dificuldade em sua ascensão social. Hoje, entre os 20% de brasileiros de maior renda, apenas 19% são negros, enquanto 80% são brancos. O salário médio dos negros costuma ser a metade do dos brancos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística."A democracia racial caiu por terra e nos anos 90 começamos a lutar por nossos direitos", conta o diretor Joel Zito Araújo, autor de um documentário sobre a invisibilidade do negro nas telas brasileiras, e cujo primeiro filme, "As Filhas do Vento", que estréia no próximo mês, tem um grande elenco de atores negros de diversas gerações.Nas esferas governamentais a presença negra ainda é tímida, mas também está em claro crescimento. Há dois anos, no início de seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou quatro ministros negros (de um total de 33), um recorde histórico; desses restam três, entre eles o cantor Gilberto Gil, ministro da Cultura.Joaquim Benedito Barbosa Gomes é o primeiro juiz negro do Supremo Tribunal Federal do Brasil, e foi nomeado em 2003. Pode parecer pouco, mas a presença de negros na cúpula da política brasileira era quase invisível dez anos atrás.Em 1995, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nomeou o primeiro ministro negro da história brasileira, Edson Arantes do Nascimento, o popular Pelé, como ministro dos Esportes. Das quatro principais cidades do Brasil, apenas São Paulo teve um prefeito negro (Celso Pitta, entre 1997 e 2000).Entre os 26 Estados brasileiros, apenas três --Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Espírito Santo-- tiveram governadores negros.Depois de tantos anos alardeando que não havia racismo, os brasileiros discutem o projeto do governo de criação do sistema de cotas --como a ação afirmativa nos Estados Unidos-- para garantir o acesso dos negros às universidades públicas.Nas instituições públicas, os negros estão ainda mais ausentes que da televisão. Na Universidade de São Paulo, estatal e gratuita, a mais prestigiosa do Brasil, apenas 1,3% dos 39 mil alunos são negros.Algumas universidades da Bahia, Rio e Brasília já tentam garantir 20% dos lugares para estudantes negros em seus exames de seleção. Outros âmbitos em que os negros são invisíveis são os programas de televisão (onde as apresentadoras costumam ser louras como Xuxa) e entre os empregados de restaurantes de luxo e lojas de moda."Nas revistas de celebridades, ser loura de olhos azuis ainda é o ideal de beleza", diz a atriz Thaís Araújo. Graças ao trabalho de atores negros como ela e seu namorado, Lázaro Ramos, esse modelo começa a mudar.
Fonte: El País - Raul Juste Lores em São Paulo
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Um comentário:
Muito bom teu texto. Que bom que o Brasil começou mostrar sua cara. Até porque, a cara do Brasil é miscigenada. A população brasileira formou-se a partir de: indígenos, brancos e negros. Quase 200 anos de abolição e ainda existe desigualdade social e racial. Mas barreiras estão se quebrando. Que bom!
Helena
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