Palmas para a Responsabilidade Social - Terceiro setor já movimenta R$ 17,5 bilhões no Brasil
Até o final da década de 80, o terceiro setor era um território dominado quase que exclusivamente por pessoas abnegadas, dispostas a doar parte de seu tempo (e também dinheiro) para creches, asilos e hospitais filantrópicos. O trabalho, de cunho eminentemente assistencialista, na maioria dos casos era coordenado por entidades ligadas a grupos religiosos. Nos últimos 15 anos, contudo, esse quadro mudou radicalmente. A começar pela estrutura e o funcionamento das Organizações Não-Governamentais (ONG).
Levantamento feito em conjunto pelo IBGE e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que além da relevância social esse segmento se profissionalizou, tornando-se uma poderosa força econômica. A pesquisa, que usou dados relativos a 2002, aponta que existem 500 mil organizações sem fins lucrativos no Brasil. Dessas, 276 mil compõem o chamado terceiro setor. São fundações privadas, institutos e associações que empregam 1,5 milhão de pessoas, cuja média salarial é de R$ 1,35 mil. No total, elas movimentam anualmente recursos (doações, verbas governamentais e oriundas de organismos internacionais) da ordem de R$ 17,5 bilhões.
O crescimento deve-se, em boa medida, à entrada de companhias públicas e privadas nessa seara. Principalmente a partir da década de 90, repetindo o mesmo processo ocorrido 20 anos antes nos países da Europa e nos Estados Unidos. “A globalização trouxe consigo uma maior cobrança por transparência em todos os níveis, inclusive no campo empresarial”, destaca Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos. Ele diz que, agora, os consumidores e os acionistas exigem das corporações algo mais que apenas o pagamento de impostos, a geração de empregos e a participação no desenvolvimento do País. “A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) já é percebida como um diferencial competitivo”, reforça.
Pesquisa elaborada pela consultoria Globescan mostra ainda que os brasileiros esperam que os integrantes da iniciativa privada tenham uma participação efetiva na resolução dos problemas sociais.
A população também está disposta a “premiar” as boas iniciativas (optando por determinada marca na hora da compra) ou boicotar produtos e serviços de quem “pisa na bola”. A proteção ao meio ambiente é lembrada como um fator importante na composição de uma imagem alinhada com os parâmetros da RSE (ver tabelas). Desse modo, é fácil compreender porque temas como trabalho infantil, desnutrição, analfabetismo e preservação ambiental – considerados até então exclusivos da agenda de membros do governo – passaram a fazer parte do dia-a-dia de executivos.
E é isso que explica, por exemplo, porque um banco (o Bradesco) é dono de uma das maiores redes de escolas regulares e de ensino profissionalizante do País. Ou o fato de uma operadora de telefonia (a TIM) manter cursos de música para 12,5 mil crianças carentes. Sem contar o incentivo e o patrocínio de atletas de alto nível (Varderlei Cordeiro de Lima e Jadel Gregório, por exemplo), a cargo da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), ou a disseminação do método “Mãe Canguru” de cuidado de bebês prematuros nascidos em hospitais públicos – patrocinada pelo Grupo Orsa, fabricante de papel e papelão.
A percepção dos consumidores é levada em conta até pelos investidores na hora de aplicar em ações. Empresas admiradas pela postura social tendem a garantir um retorno melhor. Prova disso é que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) vai lançar um Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). O mecanismo segue a linha do pioneiro Dow Jones SI (DJSI), criado pela Bolsa de Valores de Nova York em 1999.
O ISE, da Bovespa, terá 40 empresas, cujos nomes vão ser conhecidos somente em dezembro. Um dos critérios de seleção é a “performance social” de cada companhia.
Fonte: Isto É Dinheiro
sexta-feira, dezembro 02, 2005
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